8 de fevereiro de 2009

Oito motivos para dizer não ao Sistema Digital IBOC

1. Teoricamente, uma das vantagens do IBOC é que ele possibilita usar o mesmo amplificador de potência que a emissora já possui, bastando acrescentar um modulador digital em paralelo ao modulador analógico (FM). Mas, na prática, a coisa não é bem assim. O sinal digital requer um amplificador com resposta linear muito melhor do que normalmente se usa no analógico. Assim, a maior parte das emissoras têm que adquirir novos amplificadores para poder transmitir o sinal IBOC junto com o analógico. Entretanto, essa é uma despesa irracional: existe a necessidade de se adquirir um novo amplificador de alta potência - digamos 100 kW - só porque a parte digital, que ocupa nesse exemplo meros 1 kW (20 dB a menos). Ou seja, gasta-se uma fortuna para adquirir um novo amplificador, ultra-linear, só para se usar 1% dessa capacidade.

2. O sistema IBOC é totalmente proprietário - incluindo o codificador de áudio. Para quem gosta de se arriscar em depender de fornecedor único, é um prato cheio.

3. O método de licenciamento da iBiquity, dona do padrão, é um “negócio da China”. Além da emissora ter que comprar o equipamento, deve também pagar uma taxa de licença anual para a iBiquity. Muito marotamente, para apressar a implantação do sistema, a empresa concedeu um “waiver” (perdão) de cinco anos para as emissoras que implantarem o sistema este ano. E tem empresário que acredita em Papai Noel.

4. Uma das emissoras brasileiras resolveu fazer uma demonstração do IBOC em uma universidade. Circo armado, stand brilhando, etc. Na hora de ligar, o receptor não funcionou. Os técnicos correram para verificar o sinal. O analisador de espectro mostrava: o sinal estava lá. Mas o receptor era incapaz de decodificar o sinal. Coisas da vida.

5. Como o sinal IBOC é proporcional à potência do sinal analógico, uma emissora (analógica) de grande potência acaba tendo o sinal digital também forte. Com isso, as emissoras pequenas adjacentes acabam tendo que conviver com um vizinho ruidoso no espectro: é o sinal IBOC invadindo o quintal.

6. O IBOC promove um processo de usucapião do espectro: ele ocupa 200 kHz a mais nos canais adjacentes para transmitir o sinal analógico+digital (como ocorre na TV digital). Mas, após a desativação do sinal analógico, o espectro invadido NÃO É DEVOLVIDO. O sinal digital passa a ocupar 400 kHz. Para piorar a situação, a iBiquity está pressionando a FCC (órgão regulador norte-americano) para que o canal digital adicional seja de 250 kHz em vez dos 200, para MELHORAR a qualidade do sinal.

7. Ou seja, em vez de melhorar a ocupação do espectro, abrindo espaço para novas emissoras, o IBOC simplesmente piora essa ocupação, impedindo o surgimento de novas emissoras. Se for levada adiante a proposta da iBiquity, haverá inclusive redução desse espaço.

8. O IBOC é a única tecnologia digital que piora a ocupação do espectro. Todas as demais tecnologias - TV Digital, TDMA, CDMA, WiMax, etc, andam pra frente.

Quem deve pagar o pato são as emissoras comunitárias e públicas. “No caso das rádios comunitárias, que operam com potência de até 25 watts, a situação é preocupante. Conforme dados da própria iBiquity apresentados em recente consulta pública da FCC [agência norte-americana semelhante à Anatel], esse sistema não funcionaria direito com potências muito baixas”, pontua Tome. “E não é possível aumentar a potência do digital, porque aí ele vai interferir no sinal analógico da própria emissora”, diz o engenheiro, que afirma que, quando dois canais se cruzarem, especialmente um canal de alta potência (comercial) com um canal público ou comunitário, haverá um ruído de fundo semelhante a um barulho de chuva, piorando o som FM padrão hoje.

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